Projeto do Estado pode acabar com comunidades quilombolas e de fundo de pasto na Bahia
Um
último golpe contra os povos da terra poderá ser desferido pelo governo Jaques Wagner amanhã, 11 de dezembro. Nesta data está
prevista a votação, na Assembleia
Legislativa da Bahia, do projeto de Lei
19.965/2012. Pelo texto, a partir
de 2014 as comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, assim como as
quilombolas, não poderão mais receber terras devolutas do Estado para continuar
existindo.
Pelo
projeto de Wagner, as comunidades que já
são reconhecidas como remanescentes de quilombos e aquelas que usam a terra de
forma coletiva para produção agropecuária, como as de fundo de pasto, terão o
direto de viver onde sempre viveram sem, teoricamente, nenhum problema legal, até os próximos 90
anos.
Aquelas
comunidades que não ainda se identificaram com uma das categorias citadas no
projeto de Lei, terão até o dia 31 de
dezembro de 2014 para se cadastrarem.Caso contrário, poderão perder as terras
onde vivem.
Para
isso, terão que enfrentar a burocracia estadual, inclusive durante o período das
próximas eleições eleitorais. E o Estado pretende usar de sua lenta máquina
para atravancar os processos.
O
ritual nos templos da burocracia estatal começa com os trabalhos de “identificação
e mapeamento” das comunidades tradicionais por parte da Secretaria de Promoção da Igualdade
Racial, como diz o artigo 8º do projeto de Lei.
Para
piorar, o projeto enviado à Assembleia
deixa com o governo a tarefa de registrar os domínios territoriais das
comunidade tradicionais.
Para
tanto, o artigo 7º prevê “a transmissão e o registro imobiliário do
título de domínio ou contrato de concessão de direito real de uso de que trata
esta Lei nos Ofícios Imobiliários competentes serão procedidos pelo Estado da
Bahia, através da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária -
SEAGRI, com o apoio da Secretaria da Administração - SAEB”.
Bem
antes da proposição desde projeto pelo governo, a comunidade de Algodão de
Baixo, em Casa Nova (BA), se organizou, mandou uma associação e deu entrada nos
processos que para seu território fosse legalmente reconhecido como fundo de pasto.
Isso foi em 1995. Mas, até agora, o Estado não reconheceu a comunidade.
Outros planos
– Para as áreas de terra devoluta do Estado, o governo atual para ter outros
planos, que não o convívio sustentável que as comunidades tradicionais fazem têm nas terras.
Segundo
dados do Departamento Nacional de Produção Mineral, em 2011 a Bahia concedeu mais
1000 alvarás para pesquisa mineral. Ainda de acordo com o DNPM, o município de
Campo Alegre de Lourdes, no norte do estado, pode ter 82,39% de seu território pesquisado para
mineração. Onde as empresas desse ramo já instalaram, a vida da localidade não é mais a mesma.
Em
Angico dos Dias, povoado de Campo Alegre,
a população tem reclamado da poeira gerada pela extração a céu aberto de
fosfato, há cerca de um quilometro da comunidade. Lá, os problemas respiratórios têm aumentado, segundo
levantamento feito pelo enfermeiro José Manuel Zapata, ex- agente da Comissão Pastoral da Terra de
Juazeiro, na Bahia.
Comentários
Postar um comentário