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Mostrando postagens de março, 2012

Seca Furiosa

Roberto Malvezzi (Gogó)   Como ainda não encerrou o período de chuvas no semiárido, não é possível confirmarmos uma das menores pluviosidades das últimas décadas, particularmente onde se convencionou chamar de Polígono das Secas. O fato é que a data simbólica de São José passou e as chuvas vieram em pouca quantidade. Na verdade, segundo o INPE, deveríamos estar no auge de uma grande seca, que se estenderia de 2006 a 2011. Parece que o período se estendeu, o que agrava a situação. Os barreiros secaram, assim como os pequenos açudes, as cisternas estão com pouca água, muitas sem água. Na Bahia 158 municípios podem entrar em emergência.

Dilma e a esquerda sem povo

28/03/2012 Roberto Malvezzi (Gogó)   Os entraves políticos do governo Dilma não se dão apenas com sua fisiológica base aliada, mas também com aliados históricos que comungam muitas de suas causas.     Podemos citar inúmeros casos desse desencontro: o golpe na Articulação do Semiárido na questão das cisternas e da convivência com o semiárido; o não andamento da reforma agrária; a falta de diálogo com o sindicalismo, que no governo Lula era praticamente correia de transmissão do governo; silêncio e até conivência nas mudanças legais que afetam o meio ambiente, assim por diante.    No ano de 2004 o Fórum da Reforma Agrária realizou em Brasília a Conferência da Terra e da Água. Milhares de pessoas estavam no ginásio de esportes da cidade. Houve uma mesa sobre energias e água. Eu estava na mesa, juntamente com alguém do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o cientista criador do Pró-Álcool Bautista Vidal e a então Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff. Ao meu lado, n

Ruben Siqueira: ‘Está claro, hoje, o caráter político-eleitoral das obras de Transposição do Rio São Francisco’

Por Gabriel Brito e Valéria Nader Parte fundamental da agenda de grandes obras do país, a Transposição do Rio São Francisco sempre foi um polêmico assunto, que a exemplo de outros colocam na mesa interesses empresariais, eleitoreiros e, o que deveria ser o mais importante, das populações que habitam a bacia do Velho Chico. Atualmente paralisadas e em situação de certa penúria, as obras em questão voltam a ser alvo da atenção do público, uma vez que foram vendidas como salvação para os “sedentos” habitantes do semi-árido brasileiro. A fim de aprofundar o debate em torno dessa drástica transformação que se pretende promover na região, o Correio da Cidadania entrevistou  Ruben Siqueira, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Bahia  e há mais de três décadas envolvido nas questões sociais do Nordeste. Para ele, estamos diante da repetição de velhas histórias, nas quais a aliança entre o poder político e econômico joga com a “cultura da seca” mitificada nacionalmente, quand

No dia 8: luta e indignação

Por Nancy Cardoso* Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março. Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação; foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro. O que elas queriam? O que nós queremos?

NOTA PÚBLICA DAS PASTORAIS SOCIAIS DE BAHIA E SERGIPE

Sobre a Situação do Quilombo Rio dos Macacos e Tororó 4 DE MARÇO DE 2012 Para Sr.Dr. Diogo Santana, representante da Secretaria Geral da Presidência da República, Para o representante da Marinha do Brasil, Para o Sr. Governador do Estado da Bahia, Para a CNBB Nacional Para a opinião pública Nós, representantes das Pastorais Sociais do Regional Nordeste III – Bahia e Sergipe, tomamos conhecimento do sofrimento e das ameaças que vem recebendo os  quilombolas moradores do Quilombo Rio dos Macacos e Tororó, apesar das garantias expressadas na reunião que aconteceu no dia 27 de fevereiro de 2012, com a presença do representante da Secretaria Geral da Presidência da República.   Por meio desta, queremos expressar para as autoridades  e para a opinião pública, nosso repúdio aos constantes atos de intimidação e agressão como os que ocorreram na noite deste último sábado, 3 de março, véspera da execução adiada da expulsão,  quando, tratores da Marinha do Brasil e policiais militares c

Nota de repudio à proposta do Governador Jaques Wagner em relação à transferência da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu

Em fevereiro de 1857, Marciano de Jesus Fontoura, sub-delegado de polícia da então Vila do Prado, no atual extremo sul baiano, protestou, junto a Casemiro de Sena Madureira, Diretor Geral dos Índios, contra a pretendida mudança dos Índios estabelecidos nessa Vila para a de Alcobaça, sob a justificativa de que eram Índios moradores às margens do rio da Vila do Prado desde a criação da mesma e não lotes de gado que o seu Pastor leva para o lugar que mais interesse tem (1857. 02. 10. Ofício de Marciano de Jesus Fontoura, Sub-delegado de Polícia do Prado, a Casemiro de Sena Madureira, Diretor Geral dos Índios. APEB - Secção Histórica: Presidência da Província – Agricultura, Indústria e Comércio - índios – Maço 1857-1864). A pretendida mudança de Índios Pataxó e de outras etnias ali estabelecidos não se concretizou . Exatos 155 anos depois ou pouco mais de um século e meio do fato acima relatado, o governador do estado da Bahia, Jacques Wagner, propõe, em flagrante desres

Cisternas de plástico derretem ao sol

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Roberto Malvezzi (Gogó)   As imagens, divulgadas pela ASACOM (Assessoria de Comunicação da ASA), são impressionantes. As cisternas de plástico, que o governo garantiu duração de 15 anos, não resistiram três meses sob o sol e as chuvas do sertão, particularmente em Cedro, Ceará. O dinheiro público (Cinco mil reais cada), os resíduos, a decepção das famílias, tudo faz parte do lixo despejado pelo governo federal no semiárido. Quem será responsabilizado? Antes se diziam que no Brasil não há memória. Mas, hoje, cada celular é uma câmara fotográfica e a rede de internet põe no mundo o que se quer. Portanto, a vigilância será permanente. É verdade que o governo recuou e comprometeu-se a refazer o contrato com a ASA para continuar a convivência com o semiárido da sociedade civil. Recuou também de 300 mil cisternas de plástico para 60 mil. Mesmo assim, diante do que salta aos olhos, ainda vai despejar 60 mil peças de lixo plástico na cabeça dos nordestinos. Merecemos mais

MANIFESTO DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DO CAMPO

  As entidades: APIB, CÁRITAS, CIMI, CPT, CONTAG, FETRAF, MAB, MCP, MMC, MPA e MST, presentes no Seminário Nacional de Organizações Sociais do Campo, realizado em Brasília, nos dias 27 e 28 de Fevereiro de 2012, deliberaram pela construção e realização de um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis.  Considerando:  1) O aprofundamento do capitalismo dependente no meio rural, baseado na expansão do agronegócio, produz impactos negativos na vida dos povos do campo, das florestas e das águas, impedindo o cumprimento da função socioambiental da terra e a realização da reforma agrária, promovendo a exclusão e a violência, impactando negativamente também nas cidades, agravando a dependência externa e a degradação dos recursos naturais (primarização). 2) O Brasil vive um processo de reprimarização da economia, baseada na produção e exportação de commodities agrícolas e não agrícolas (mineração), que