UM RIO NÃO GRITA





Um rio não grita.

O São Francisco tem sede.

Hoje, apenas 900 metros cúbicos de água passa entre Juazeiro e Petrolina.

A Amazônia já não dá de beber ao Cerrado e o Cerrado já não dá de beber ao São Francisco.

Restam apenas 5% das matas ciliares do Velho Chico, mas o agronegócio continua avançando no território de sua bacia e desmatando o que resta da Caatinga e do Cerrado.

Quase todos os esgotos continuam indo diretamente para seu leito: domésticos, minerários, industriais, hospitalares.
Seu corpo está retalhado por barragens e suas águas já não conhecem a liberdade.

Seus pescadores não encontram peixes e a juventude que hoje tem entre 15 e 20 anos nunca viu um surubim.

Os condomínios avançam em suas margens, ocupando áreas que legalmente são de preservação permanente.

Os agricultores das ilhas, os vazanteiros, os beradeiros, já não sabem como viver do rio.
A irrigação ilimitada suga as últimas gotas de suas lágrimas.

O rio não grita, apenas silencia.

Só depois de morto saberemos que seu silêncio era o seu grito.

Juazeiro, 07 de outubro de 2015.

Articulação Popular São Francisco Vivo

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