Dilma e a esquerda sem povo


28/03/2012
Roberto Malvezzi (Gogó)
 
Os entraves políticos do governo Dilma não se dão apenas com sua fisiológica base aliada, mas também com aliados históricos que comungam muitas de suas causas.    
Podemos citar inúmeros casos desse desencontro: o golpe na Articulação do Semiárido na questão das cisternas e da convivência com o semiárido; o não andamento da reforma agrária; a falta de diálogo com o sindicalismo, que no governo Lula era praticamente correia de transmissão do governo; silêncio e até conivência nas mudanças legais que afetam o meio ambiente, assim por diante.   
No ano de 2004 o Fórum da Reforma Agrária realizou em Brasília a Conferência da Terra e da Água. Milhares de pessoas estavam no ginásio de esportes da cidade. Houve uma mesa sobre energias e água. Eu estava na mesa, juntamente com alguém do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o cientista criador do Pró-Álcool Bautista Vidal e a então Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff. Ao meu lado, na mesa, estava uma secretária pessoal da então Ministra. Quando falou que iria continuar o programa das barragens, Dilma foi vaiada pelo público mais ligado ao MAB. De imediato, a secretária de Dilma que estava ao meu lado murmurou: “o movimento social parou na história. Há tempos não contribui com mais nada com o Brasil”.    
Hoje, quando vejo os acontecimentos, tendo Dilma como presidenta, aquela frase da secretária me veio novamente à memória: tudo indica que aquele pensamento não era somente da secretária, mas da própria Dilma.    
Dilma veio de grupos de esquerda que pouco tiveram contato com o povo. Ainda que essas pessoas sejam extremamente íntegras, fazem parte daquele setor da esquerda que sempre teve dificuldades de reconhecer o povo como um ator essencial nas mudanças. As vanguardas têm a solução.    
Infelizmente, ou Dilma aprende rapidamente a lidar com os movimentos sociais de uma forma mais efetiva, ou vai ver o povo na rua, como os 15 mil indignados que ocuparam Petrolina, exigindo o cancelamento das cisternas de plástico.
Artigo originalmente publicado na edição impressa 473 do Brasil de Fato

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