Trabalhadores/as debatem impactos da mineração e parques eólicos
“Uma destruição total, tanto da
natureza como do sossego das pessoas que vivem ali”, relata Pedro Sérgio dos
Santos se referindo à instalação de um parque eólico na vizinhança da sua
comunidade. O jovem, nascido e criado na Taquara, localizada no município de
Morro do Chapéu-BA, conta com tristeza as mudanças que ocorreram no local após
a chegada do empreendimento há pouco mais de um ano. Entre as transformações
nas paisagens e no cotidiano, os impactos nas relações de pertencimento e culturais
é o que mais chama a atenção na fala de Pedro.
“A gente ia se divertir nos rios,
cachoeiras, cavernas e hoje a gente perdeu tudo isso e eles proíbem passar lá,
a gente que mora vizinho tem que se identificar. E não tem mais graça ir na
serra, você vai ver o que lá? Torre? Não se vê mais uma planta, bicho...”,
afirma.
Relatos como o de Pedro Sérgio foram
ouvidos durante o “Seminário das Comunidades Ameaçadas e Impactadas pelos
Projetos do Capital: Exploração Mineral e Parques Eólicos na Região
Centro-Norte da Bahia”. A atividade, organizada pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), aconteceu nos dias 7 e 8 de agosto em Jacobina e contou com
participantes dos territórios das Dioceses de Juazeiro, Bonfim, Ruy Barbosa e
Irecê.
Tatiana Dias (UFBA), Vinícius Montalvão (MAM), Almacks Luiz (gestor ambiental) |
No primeiro dia do Seminário, uma
mesa formada pela professora de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Tatiana Dias, o gestor ambiental Almacks Luiz e o integrante do Movimento
Popular pela Soberania na Mineração (MAM) Vinícius Montalvão, debateu os
processos de apropriação dos territórios para expansão dos empreendimentos do
capital.
A professora da UFBA, que também
integra a Associação dos Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais (AATR) e a CPT
Bahia, abordou o momento atual que estamos vivenciando, denominado por alguns
estudiosos como “ultraneoliberalismo”. De acordo com a advogada, há uma aliança
entre “o estrangulamento orçamentário com todos os grupos opositores, setores
do patronato rural que não querem ver esses direitos [sociais] reconhecidos
porque significa que a lucratividade vai diminuir, porque vão perder essas
áreas que estão sendo utilizadas como fronteira para a agropecuária mono
exportadora, setor mineral, energético”.
Os cortes no orçamento público em
áreas sociais como saúde, educação, segurança já estão afetando de forma
incisiva a população, principalmente, as classes mais pobres. No reconhecimento
de direitos territoriais dos indígenas e comunidades tradicionais, como
quilombolas e fundo e fecho de pasto, o ajuste fiscal também já é sentido,
devido à restrição orçamentária para estas ações.
O gestor ambiental Almacks Luiz
destacou uma série de impactos negativos provocados a partir da instalação de
parques eólicos na região. A destruição de estradas devido ao peso das carretas
que transportam as torres eólicas, perda de biodiversidade da fauna e a redução
da qualidade e quantidade das fontes de água foram alguns dos citados. “A gente
chamava atenção desde as audiências públicas que um estudo que você tenta
minimizar isso é o estudo de impacto de vizinhança e isso não foi dado atenção.
É necessário catalogar todos esses impactos para tomar uma providência e tentar
minimizar isso”, comenta.
Bem Viver
Durante o Seminário foi realizado
um estudo sobre o Bem Viver, conceito inspirado nos saberes tradicionais dos povos
andinos, como parte das atividades do Dia Nacional de Formação da CPT. O agente
pastoral Cláudio Dourado conduziu a formação trazendo elementos do livro “O Bem
Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos”, de autoria do equatoriano
Alberto Acosta, e da sua experiência na Bolívia, através de uma parceria da CPT
com o Movimiento Por La Tierra e Território.
Texto e fotos: Comunicação CPT Juazeiro
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