VIII Romaria das Águas de Sobradinho discute as ameaças dos Grandes Projetos na Região
No último
final de semana, de 13 a 15 de outubro, a “Terra da Barragem”, como é conhecida
a pequena Sobradinho, localizada a cerca de 550 km de Salvador, realizou a VIII
Romaria das Águas, com o tema “Água é Vida! A morte do Velho Chico é a morte do
seu Povo”.
O evento
reuniu romeiros de toda a Diocese de Juazeiro - BA, que além de discutir os
problemas que afetam diretamente o Rio São Francisco, também fizeram um debate
sobre as ameaças que têm rondado o povo Ribeirinho. A mais nova dessas ameaças
é a implantação de Parques Eólicos.
São
muitos os relatos de irregularidades no processo de implantação desses parques.
Segundo Marina Rocha, integrante da CPT - Comissão Pastoral da Terra de
Juazeiro-BA, “as empresas que chegam em nome do capital, parece que pensam que
o povo não sabe seus direitos, por conta disso elas chegam como um trator,
passando por cima de todas as comunidades, dos direitos, da realidade dessas
comunidades. É um desrespeito total!”
Marina
afirma que “as empresas não consultam e não informam a sociedade que tipo de
projeto estão querendo implementar”. Ela atribui esse posicionamento a
prioridade dessas empresas: o lucro. “Por conta disso eles não pedem permissão
e vão entrando nas comunidades, seja para pesquisar minérios, seja para
implantar energia eólica”, relata Marina.
Para
Marina esses empreendimentos sempre chegam “com milhões de promessas: geração
de emprego, geração de renda, geração de desenvolvimento e progresso”. Tantas
“vantagens” acabam encantando as pessoas que aceitam a proposta sem ao menos
conhecer.
“Eu
estive em uma comunidade onde a empresa
chegou com os contratos, a máquina de xerox e pediu para que todos
levassem os documentos. Era um contrato com nove páginas. Ao mesmo tempo em que
chegavam já assinavam o contrato, entregavam os documentos para fazer a cópia e
assinavam sem conhecer os detalhes do contrato”, conta a integrante da CPT.
Mesmo com
o contrato assinado Marina diz que ainda é possível reverter a situação. “As
pessoas não tiveram informação suficiente sobre esse contrato. Então, elas
podem judicialmente anular esse contrato. É possível fazer isso. Então as
pessoas devem se reunir em grupo para buscar a anulação”, explica.
Religiosidade
– Padre
João Sena (Paróquia de São Francisco de Assis – Sobradinho) entende que “a
romaria tem o objetivo de despertar no povo o amor pelo rio São Francisco, o
amor pela vida, o amor pela criação de Deus”.
No que
diz respeito ao posicionamento da igreja diante da forma como as empresas de
energia eólica têm chegado a região, Padre João é contundente: “a igreja tem
que assumir a causa daqueles que são explorados pelos grandes projetos, seja no
caso das mineradoras, seja no caso dos parque eólicos. A igreja tem a missão de
defender a vida”, comenta o padre.
Cultura –
Para Paulo José, integrante da CPT e membro da equipe organizadora do evento, “o diferencial da Romaria das Águas de Sobradinho é agregar todos esses meios: o lado
religioso, o lado social, o lado cultural”. Segundo o mesmo, a organização
“sempre buscou garantir esse espaço cultural dentro da romaria”.
Participação
juvenil – Marina
Rocha avalia com muita satisfação a participação de jovens no evento. De acordo
com ela “pessoas que já são experientes na luta não são mais enganadas com as
falsas promessas do grande capital. Mas a luta precisa ser renovada. Então a
gente fica muito alegre de perceber que tem muito jovem interessado nessa
continuidade da luta”, expõe. Ela também vê como positivo a participação de
Jovens urbanos. “Muitas vezes as pessoas da cidade ignoram essas realidades,
acham que é problema do campo”, esclarece.
Padre
João concluiu prevendo ações para o evento no próximo ano. “Nós vamos envolver
mais as comunidades, intensificar mais o trabalho, valorizar mais a presença da
juventude e procurar envolver os profissionais da educação”, prevê.
Comentários
Postar um comentário