MOÇÃO DE SOLIDARIEDADE DA CPT-BA AO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA E DE REPÚDIO À POLÍTICA ANTI-INDÍGENA DO GOVERNO BRASILERO
A Comissão Pastoral da Terra – Bahia (CPT/BA), reunida em seu
Conselho Regional, com a participação de 44 pessoas, entre membros da
CPT e representantes dos trabalhadores e trabalhadoras rurais das várias
regiões do Estado da Bahia, entre 02 e 06 de dezembro de 2013, na Vila
Paraíso do Atlântico, no município de Ilhéus, tomou conhecimento da
situação de perseguição e violência sofrida pelo povo Tupinambá de
Olivença. Manifestamos aqui nossa irrestrita solidariedade à resistência
e luta deste bravo e aguerrido Povo, ao mesmo tempo em que repudiamos a
postura irresponsável e criminosa do governo brasileiro que, tantos
séculos depois, continua a promover o extermínio de Povos Indígenas.
De joelhos, submisso ao agronegócio, confirma o governo da Presidente
Dilma Rousseff sua opção anti-indígena. Foi o que menos demarcou terras
indígenas e o que mais avançou, em conluio com setores majoritários do
Congresso Nacional, na restrição ou supressão de direitos indígenas, por
meio de decretos e portarias inconstitucionais novos ou retomados:
Portarias 419/2011 e 303/2012, Decreto 7957/2013, PECs 215/2000,
237/2013 e 038/1999, PL 1610/1996 e PLP 227/2012.
Todos esses instrumentos institucionais buscam inviabilizar e impedir
o reconhecimento e a demarcação das terras indígenas, reabrir e rever
procedimentos de demarcação de terras indígenas já finalizados e
facilitar a invasão, exploração e mercantilização dos territórios
indígenas e suas riquezas. Aliado a isto, dissemina o racismo contra os
Povos Indígenas, criminaliza suas lideranças e tentar dividir suas
organizações e movimentos. Configura-se uma inédita e inesperada afronta
ao Estado Democrático de Direito.
Esta postura do governo e a demora na publicação da Portaria
declaratória têm gerado um clima de tensão e violência no sul da Bahia
vitimando em especial os Tupinambá e os pequenos agricultores.
Após a conclusão dos estudos que comprovaram a ocupação tradicional
do território pelos indígenas, cabe agora ao ministro da justiça, José
Eduardo Cardozo, assinar a Portaria Declaratória. O documento está nas
mãos do ministro há quase dois anos, apesar de a legislação determinar o
prazo de 30 dias após o recebimento do processo para que o ministro dê
os encaminhamentos pertinentes. Com esta postura o governo brasileiro
viola os direitos originários do Povo Tupinambá garantidos na
Constituição Federal de 1988 e assegurados pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho – OIT, ratificada pelo Brasil em
2002.
Políticos e fazendeiros da região com o apoio da mídia local vêm
cometendo crimes contra a comunidade, divulgando dados inverídicos sobre
o processo de regularização da Terra Indígena Tupinambá de Olivença,
incitando a violência e o preconceito.
A demora na assinatura da Portaria emperra que outros encaminhamentos
relativos à regularização do território avancem. E enseja manipulações
odiosas, como a que estão submetidos pequenos agricultores da região
utilizados como “biombos” para grandes latifundiários e o agronegócio e
praticantes de ações suspeitas e mesmo crimes na área Tupinambá.
Cabe ressaltar que a legislação brasileira estabelece que os
ocupantes não indígenas de boa fé devem ser reassentados pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em outras áreas e
receber indenizações pelas benfeitorias, a serem pagas pela Fundação
Nacional do Índio (FUNAI). Dessa forma, os direitos de todas as pessoas,
indígenas e não indígenas, são assegurados na lei, como forma de
realizar a justiça e promover a paz.
A Comissão Pastoral da Terra – CPT/BA denuncia as perseguições e
violações sofridas pelo Povo Tupinambá por defender sua integridade e
seu direito inalienável ao território, únicos espaços que restam para
sua sobrevivência, depois de 513 anos de roubo, expulsões e etnocídio.
Somos solidários com as lideranças Tupinambá e com o CIMI – Conselho
Indigenista Missionário perseguidos por conta de sua atuação a serviço
desta luta mais que justa. Solicitamos do Ministro da Justiça a imediata
assinatura da Portaria Declaratória da Terra Indígena Tupinambá de
Olivença e urgência no cumprimento das demais etapas do processo de
demarcação.
Exigimos o respeito apenas aos legítimos direitos dos verdadeiros
pequenos agricultores ocupantes de boa fé. Exigimos a apuração dos
homicídios que vitimaram indígenas e a punição exemplar dos responsáveis
e a apuração e punição dos veículos de comunicação que divulgam
conteúdos racistas e incitam a população local contra os indígenas.
Somente com estas ações imediatas será possível ao Povo Tupinambá
finalmente conquistar sua “terra sem males” e usufruir dos direitos que
lhes garantem a Constituição, o bom senso e a justiça.
Ilhéus (BA), 05 de dezembro de 2013.
Conselho Regional da CPT/BA
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