BAHIA: MAIS VAZAMENTOS DE URÂNIO DAS INDÚSTRIAS NUCLEARES DO BRASIL
Vazamento de urânio em pó, na área de entamboramento. Foto IBAMA |
Mais um ano amargo para o Programa
Nuclear Brasileiro. O balanço 2013 é mesmo degradante, encerrando com
vazamentos de licor radioativo, de contaminantes químicos, supressão de
vegetação e baixa produção em sua unidade industrial de Caetité, na
Bahia, onde uma mineração de urânio dá inicio ao ciclo de produção de
energia nuclear. Crimes ambientais e trabalhistas, constatados e
denunciados, ao longo do ano, aos órgãos responsáveis pela fiscalização
continuam impunes.
O Sindicato dos Mineradores de Brumado e
Microrregião (Sindmine) revelou, hoje, que a Indústrias Nucleares do
Brasil (INB) conseguiu esconder um acidente no TQ 1402, maior tanque de
estocagem do sistema de produção de concentrado de urânio, que há mais
de um mês está encharcando o solo com licor radioativo. E ontem foi
detectado outro vazamento, num reservatório de rejeitos de altíssima
concentração de urânio na área 170, onde se realizam atividades de
precipitação, filtração, secagem e entamboramento desse minério. É a
mesma área que foi parcialmente interditada, em julho de 2011, pelo
Ministério Público do Trabalho e MTE, devido à irregularidades
verificadas na INB.
CONTAMINANTES AMEAÇAM
Entre as criticas dos fiscais do IBAMA,
está o registro da inexistência de manuais de operação, em especial,
procedimentos para situações de emergências e procedimentos gerais de
segurança, saúde e meio ambiente. Anotaram que a área de estocagem de
resíduos contaminados permanece inadequada, que medidas corretivas,
recomendadas há anos, não foram adotadas e que os tambores com esse
material continuam expostos às intempéries. Materiais perigosos,
resíduos inservíveis continuam sem adequado tratamento, dispostos em
valas. Plásticos, madeira, enfardados, lâmpadas fluorescentes ficam ao
ar livre.
Desde agosto do ano passado, diversos
acidentes chegaram ao conhecimento público. Poucos foram comunicados aos
órgãos competentes. Em 19 de agosto, houve um transbordamento de óleo
BPF na área das caldeiras. Em 22 do mesmo mês, o fato se repetiu. O
terceiro transbordamento de óleo combustível BPF ocorreu em 25 de
agosto. Em 26 de setembro, cerca de 300 litros de óleo BPF escoaram para
a rede de drenagem pluvial, transbordando para o meio ambiente. Já em
18 de outubro, uma falha na operação da INB espalhou cerca de 250 kg de
urânio em pó, que estavam sendo embalados em um tambor, dos quais a
empresa só conseguiu recuperar 118 kg. Em 2 de novembro, vazou ácido
sulfúrico a 98% de um tanque e transbordou para o meio ambiente,
chegando ao Córrego do Engenho. Este acidente paralisou a produção.
Vazamentos de ácido sulfúrico são
corriqueiros na INB. E chama a atenção, o fato dos gestores da empresa
orientarem os trabalhadores a não registrar problemas em seus livros de
relatório. Há um poço de monitoramento, por exemplo, o PMA-18, que desde
2010 vem detectando vazamento de solventes por baixo da planta da
usina, que jamais foi controlado, apesar de todo o piso da área ter sido
concretado. Este fato ilustra bem a incompetência gerencial da unidade
de Caetité, que há anos não sabe de onde parte o vazamento, nem tem
idéia do volume já infiltrado no solo.
PREJUÍZOS DO NUCLEAR
A condicionante do licenciamento
determina que qualquer acidente causador de dano ambiental deve ser
comunicado de imediato ao IBAMA, à CNEN e ao INEMA. Mas os fiscais
afirmam que “a INB continua não informando o Ibama de todos os eventos
ocorridos na instalação”. E sugeriram a aplicação do Decreto nº
6.514/2008, que prevê multa de R$ 500,00 a R$ 10.000.000,00 pelo
descumprimento das condicionantes do licenciamento.
A violação de leis ambientais, de leis
trabalhistas e o descumprimento de condicionantes do licenciamento é
pratica rotineira na unidade baiana da INB. Isto já foi denunciado
várias vezes por movimentos sociais e fiscais do IBAMA. No campo do meio
ambiente do trabalho, o ano finda também com um saldo bastante
negativo. Práticas antisindicais tentam impor uma cortina de silêncio
sobre os problemas que acontecem na empresa e resultam em tentativas de
demissão de sindicalistas e afastamento de trabalhadores, por
adoecimento psicológico, vitimados por um assédio moral sem precedentes.
A média anual de acidentes em Caetité
evidencia a incompetência gerencial e a insegurança técnico-operacional
que caracterizam o Programa Nuclear Brasileiro. Até quando o Estado
brasileiro continuará fazendo vistas grossas à devastação ambiental e
aos prejuízos de trabalhadores e das populações afetadas por este
programa, no Sertão da Bahia?
Fonte: Racismo Ambiental
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