AGRICULTORES DO PERÍMETRO DE IRRIGAÇÃO DE ESTREITO OCUPAM SEDE DA CODEVASF EM BOM JESUS DA LAPA (BA)
Cerca de 450
produtores rurais ocupam desde segunda-feira (24) a sede da Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), em
Bom Jesus da Lapa, no Médio São Francisco.
Eles são
colonos do Perímetro de Irrigação de Estreito, um projeto da CODEVASF
que contemplou 553 famílias agricultoras com lotes de 4,37 hectares para
a fruticultura. A irrigação é feita a partir da Barragem de Estreito,
no Rio Verde Pequeno, afluente do Rio Verde Grande, em Minas. As famílias reclamam perdas da safra 2009/2011 devido à seca e má gestão da companhia sobre o perímetro irrigado.
O coordenador da Articulação Popular São Francisco Vivo, Ruben Siqueira, ressalta uma das reais causas da seca na região. “O Verde Grande era um importante afluente perene do São Francisco e a irrigação indiscriminada e desordenada o tornou intermitente”, disse.
Diante da situação, os líderes sindicais estão negociando uma Ação Ordinária com
a CODEVASF. O valor do prejuízo econômico com a perda da safra é
estimado em R$14 milhões. Um dos presentes na manifestação é o
agricultor Robson Gualberto, 46. “No momento está chovendo, tem água,
mas como o sistema está sem manutenção, não funciona”, reclama.
É o caso do agricultor José Porciano da Silva, 43, colono em Sebastião Laranjeiras. Ele abriu um poço artesiano com financiamento bancário e
consegue uma renda de pouco mais de um salário mínimo. “Consigo
produzir maracujá e banana e faço a adubação com esterco de gado, que
pego nos currais da vizinhança. Quando tenho recurso, compro o adubo
mineral”, disse. Porciano comercializa a sobra em feiras locais de
quatro municípios da região: Sebastião Laranjeiras, Urandi, Espinosa e
Guanambi.Muito êxodo e pouca convivência –
Diante da situação, a maior parte dos agricultores está indo trabalhar
no corte de cana-de-açúcar, colheita de laranja ou migra para outra
produção, “a exemplo da produção de leite,
que não exige tanta água e funciona quando chove”, explica Gualberto.
De acordo com o assessor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(FETAG) em Guanambi (BA), Cosme Nascimento, os poucos que ficaram só
estão conseguindo produzir porque estão fazendo o manejo da água por
conta própria.
Qual é o projeto político do movimento sindical? –
As reivindicações e negociações em curso revelam uma lacuna no projeto
político do movimento sindical, que tende a se restringir à defesa dos
interesses econômicos dos produtores. O agrônomo Samuel Britto,
articulador da São Francisco Vivo, percebe essa fragilidade na ausência
de questionamento sobre o modelo de desenvolvimento, o modo como é feita
a gestão hídrica, o modo como os alimentos são produzidos e
comercializados. “Pela pauta de reivindicações, a gente percebe que eles
questionam a ausência de gestão do sistema de irrigação da CODEFASV,
mas não o perímetro em si”, disse.
Sobre
o posicionamento politico do movimento sindical quanto ao modelo de
produção, os produtores argumentam que querem fazer a transição
agroecológica, mas para efetivar essa transição precisam do sistema
funcionando. “Falta apoio, incentivo para a mudança”, justificou o
assessor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAG) em
Guanambi (BA), Cosme Nascimento.
Por Raquel Salama, assessora de comunicação da APSFV.
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