Grilagem de terras: Comunidades de Campo Alegre de Lourdes sofrem ameaças constantes
Comunidades da região do Angico dos Dias reunidas no quarta-feira (28) |
Famílias camponesas da região do Angico dos Dias, formada por oito comunidades e localizada a cerca de 70 Km da sede de Campo Alegre de Lourdes, são alvo, mais uma vez, de ameaças de expulsão do território. Uma grilagem de terras de 83 mil hectares, qua abrange a região noroeste do município e parte de Pilão Arcado, está colocando em risco o jeito de viver tradicional das comunidades de fundo de pasto que vivem há várias gerações no local.
Desde o
final de janeiro, as comunidades, que já são impactadas pela mineradora
Yara/Galvani, estão vivendo um clima de tensão e insegurança. Segundo os
integrantes da Associação de Fundo de Pasto de Angico dos Dias e Açu, pessoas
sem autorização estão medindo a área coletiva e ameaçando os/as
trabalhadores/as rurais, dizendo que estes não têm terras e que serão expulsos
do local.
“Tão
medindo as terras, eles vão de dia e de noite fazer o variante”, diz Dona Maria
de Souza, 70 anos, que nasceu e foi criada na comunidade do Angico dos Dias junto
com dez irmãos. Com as ameaças constantes, a rotina na comunidade não é mais a
mesma. “Eu não tô conseguindo mais ir trabalhar por causa do medo de ir sozinho
pra roça”, afirma Seu Salvador Mendes, membro da Associação.
De acordo
com relatos dos/as associados/as, as pessoas que estão ameaçando a comunidade
dizem estar a mando de José Dias Soares, conhecido como Zé do Salvo e que mora
na região, e do empresário português Carlos Manuel Subtil Duarte.
Ameaça de policiais
No último
domingo (25), o clima de insegurança foi ainda maior no Angico dos Dias.
Conforme depoimentos dos/as camponeses/as, dois policiais em uma viatura da
Polícia Civil de Campo Alegre estavam acompanhando pessoas que mediam a área do
fundo de pasto sem autorização da comunidade. “A Polícia pediu para as pessoas
não se aproximarem. Eles estavam fazendo variantes e pediu para a gente não se
aproximar porque iríamos ter problemas”, comentou um jovem do local.
Para o
presidente da Associação de Fundo de Pasto de Angico dos Dias e Açu, Edinei
Soares, este momento provocou humilhação e constrangimento na comunidade. “Qual
o papel da polícia? É defender os cidadãos e a polícia chegou aqui defendendo
os bandidos”, disse. “Todo mundo ficou muito sentindo, eu mesmo não dormi à
noite”, afirmou Dona Maria.
Mobilização Comunitária
Por
defender o território tradicional de fundo de pasto, quatro membros da
Associação foram acusados de crime de ameaça e intimados para prestar
depoimento na Delegacia do município na manhã de ontem (28).
Os
associados compareceram à Delegacia acompanhados de cerca de 100 pessoas do
Angico dos Dias e de outras nove comunidades da região. Entidades ligadas às
questões do campo, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Instituto
Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), o Serviço de Assessoria a
Organizações Populares Rurais (Sasop) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Campo Alegre de Lourdes também marcaram presença nesse momento de apoio à luta
dos camponeses/as pela permanência na terra.
“A gente vê
os problemas e às vezes pensa que estamos desamparados, mas a partir do momento
que fomos intimados e as pessoas das comunidades e das entidades nos deu apoio,
a gente se sente engrandecido e fortalecido para continuar a nossa luta”,
avaliou Soares.
Histórico
Em 2014, o juiz
da Vara Cível da Comarca de Remanso emitiu uma decisão atendendo ao pedido de Wanderle
Dias Costa, responsável por uma grilagem de 44 mil hectares que englobava as
comunidades de Angico dos Dias, Açu, Baixãozinho, Baixão Novo, Baixão Grande, Arueira,
Poço do Baixão, Lagoas e Queimada Grande. Em meio a ameaças e perseguições, as
comunidades denunciaram a grilagem, resistiram no território e conseguiram a
cassação da liminar, que beneficiava Wanderle, no Tribunal de Justiça da Bahia
em setembro de 2015.
A
mobilização desta quarta-feira mostra, mais uma vez, que os/as camponeses/as
vão continuar na luta pelo seu território, pois como afirma Seu Salvador
“ninguém vence sem lutar e ninguém colhe sem plantar”.
Texto e fotos: Comunicação CPT Juazeiro
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