CARTA ABERTA
A CAPRINOVINOCULTURA TRADICIONAL DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ESTÁ AMEAÇADA
A CAPRINOVINOCULTURA TRADICIONAL DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ESTÁ AMEAÇADA
As Cabras e Ovelhas são animais muito bem adaptados ao clima do sertão, são geradores de alimento e renda para milhões
de famílias. Esta importante atividade
econômica está seriamente ameaçada em todo o Semiárido. Grandes grupos
empresariais estão se organizando para dominar a cadeia produtiva da
caprinovinocultura, reservando aos criadores/as tradicionais o papel de meros
empregados desta atividade. Este documento tem o objetivo de chamar a atenção
da sociedade para essa grave ameaça.
BREVE HISTÓRICO DA CAPRINOVINOCULTURA TRADICIONAL NO SEMIÁRIDO
As cabras e ovelhas adentraram as Caatingas brasileiras como animais de segunda
ordem, sua carne e leite serviram como reserva de alimentos para as famílias dos vaqueiros e escravos dos
colonizadores portugueses, e ainda forneciam peles para diversos usos. Nesse
período o rio São Francisco serviu de trilha para a colonização e inúmeros currais
e fazendas de gado bovino foram instalados. Essa fase marcou a consolidação dos
grandes latifúndios na região quando o gado bovino servia como importante fonte
de produção de carne e couro para os coronéis donos de engenhos de cana de
açúcar no litoral brasileiro. Estes, na época, eram responsáveis pelo principal
produto de exportação da economia brasileira, o ouro branco: o açúcar!
A pecuária brasileira é 100% composta por animais domésticos exóticos e as
nossas cabras e ovelhas são originárias principalmente da Europa, portanto,
adaptadas a um clima totalmente diferente ao Semiárido. Esses animais sofreram
muito para conseguir sobreviver em nossa região com clima e vegetação
diferentes às suas origens. A natureza semiárida impôs a esses animais
condições limites de sobrevida, ou se adaptavam ou morriam perdidos pelas
Caatingas. Nesse processo de adaptação, o instinto de sobrevivência falou mais
forte e as cabras e ovelhas diminuíram suas capacidades de produção de leite e
carne, mas ganharam rusticidade -- leia-se adaptabilidade às Caatingas.
As lutas sociais por libertação, "fim da escravidão" no
Brasil, provocaram grandes mudanças quanto à ocupação das terras das Caatingas.
A história do Povo de Canudos é nossa grande referência. Foi nesse contexto que
as cabras e ovelhas deixaram de ser animais de segunda ordem e ganharam
importância social, econômica, ambiental e cultural no Semiárido e no Brasil.
A caprinovinocultura das comunidades tradicionais se transformou no grande
potencial sócio econômico dos povos das Caatingas e tornou-se a poupança dos
caatingueiros/as.
O Brasil possui atualmente um rebanho de 26 milhões de cabeças de caprinos
e ovinos ocupando a 15ª posição no ranking mundial (FAO, 2009). Esse número
corresponde a 13% do rebanho em todo o mundo, e a região semiárida é a maior
produtora de caprinos do Brasil.
A AMEAÇA REAL
Os grandes grupos empresariais perceberam o potencial econômico da cadeia
produtiva da caprinovinocultura e a possibilidade de retomar o controle e
domínio das terras e águas das Caatingas e estão se organizando em grandes
corporações de produtores para integrar e dominar os criadores/as de cabras e
ovelhas das comunidades tradicionais. Eles tem um grande e ambicioso projeto de
modernização e controle da atividade, mas no fundo é uma nova forma de
escravidão que consiste em introduzir animais de raças especializadas, não
adaptadas ao Semiárido, dependente de insumos e instalações complexas. Este
modelo precisa ser questionado urgentemente.
Os camponeses e camponesas do Sul do Brasil já passaram pela experiência
de serem produtores integrados de frango e porco. Os relatos são assustadores,
pois hoje esses produtores perderam a independência financeira e cultural
porque não tem mais a liberdade de planejar sua própria produção e escolher o
que, como e quando produzir. Isso é muito grave!
A vida dos caatingueiros/as, as Caatingas e a caprinovinocultura tradicional estão em perigo! O que podemos fazer frente a
essa grande ameaça?
Juazeiro (BA), 12 de novembro de 2012
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA
FONTE:
Comunicação IRPAA
www.irpaa.org
(74) 3611-6481
Comentários
Postar um comentário