Quinquim e sua grande herança viva
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Foto: Diego Limaverde |
Joaquim Ferreira da Rocha, casado com Luzia da
Rocha, pai de 9 filhos (4 mulheres e 5 homens, 27 netos, 16 bisnetos,
autodeclarando-se “irmão da luta” de milhares de pessoas.
Com
sua morte ele nos surpreendeu a todos. Como quando ele iniciava a fazer um
pronunciamento e da sua boca saiam, clara como o sol do sertão, ideias e
propostas de ação que convenciam a todos os seus companheiros e companheiras.
Não
pude estar presente ao velório com muita gente conhecida e comovida, mas a
gente fez um velório individual aqui em casa e me saíram estas palavras,
escritas e enviadas com o coração. Sem nenhuma pretensão de esgotar a
personalidade de Quinquin que a gente, considera uma das melhores lideranças
que a fé, a luta e as comunidades unidas de Casa Nova, no sertão norte da Bahia,
produziram. Nessa noite, lembrei Quinquin assim:
Para todo o povo reunido se
despedindo de Quinquim
Seu nome ressoou de novo no meu
coração, desta vez com o anuncio seco da morte, que Marina, nossa companheira e
sobrinha dele, nos enviou.
Não queria acreditar quando o ouvi na
mesa da sede da CPT em Salvador, enquanto estávamos almoçando. Foi um golpe no
coração e na cabeça.
Logo pensei em viajar para participar
fisicamente do adeus, em Casa Nova, mas o transtorno psicofísico da uma longa
viagem de volta da Itália ontem, me aconselharam a não forçar a barra. Organizei,
porém, logo o meu velório no início da noite, meditando e partilhando este
momento que partilho com todos e todas nós, da luta da região de Casa Nova,
Juazeiro e da CPT BA.
Como disse Célio de Bonfim, perdemos,
de repente, "um mourão” que nos
sustentava. E nos sustenta ainda, em três direções:
· No amor e na defesa de uma terra generosa,
rica, chamada de sequeiro mas sempre cobiçada e ameaçada;
· Na fé inabalável de ser e viver como
cristão lucido e aderente à realidade; pois ele jamais deixaria de iluminar sua mente e sua ação, pelo Deus de Jesus;
· Na fidelidade coerente e rigorosa,
por décadas a fio, mantendo a posição de “santa rebeldia” dentro de conflitos
onde precisava – e precisa hoje - sempre tomar posição, resistir e reagir em
favor de todos os primeiros moradores desta caatinga abençoada e cobiçada pelos
grandes.
Sua presença em todas as instâncias
sociais, religiosas e eclesiais, festivas ou de luto, Quinquim tornou-se
símbolo e paradigma permanente: sua palavra era profunda, franca e aderente à
realidade. Seu horizonte era sempre o da transformação justa deste mundo onde ele
e seus companheiros e companheiras viviam permanentemente ameaçados. O respeito
à memória dos antepassados e aos direitos do povo do sertão da Bahia e do
Brasil, eram sagrados. Não posso
esquecer também que ele jamais buscou isso sozinho, mas sempre numa
avaliação dialogada, com seus companheiros e companheiras de comunidade e
com outros aliados da sociedade e da igreja.
Neste meu cacho de pensamentos
emocionados, relampeja dentro de mim um sinal de tempo bom de chuva, com nuvens
benfazejas, para Casa Nova e nosso país todo. A partir de Areia Grande e do seu
povo, primeiro herdeiro do que foi e é Quinquim ainda hoje para ele e para nós
todos que o conhecemos.
Neste momento de vácuo deprimente de
Brasil que estamos passando, Quinquim continua vivo, como valioso sinal da luta
inconformada, paradigmática e vitoriosa entre Moisés e os faraós, de bíblica
memória que Quinquin tanto apreciava e assumia como sua.
Continue caminhando e falando
conosco, velho Quinquin querido!.
Abraços a você, sua família e a todos
os presentes.
Frei Luciano Bernardi, interpretando
a CPT Regional da Bahia.
Salvador 18 de agosto de 2017.
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