Carta da XIX Assembleia da CPT Bahia / Sergipe: “A esperança nasce do meio do povo”




“Vim trazer fogo à terra e como gostaria que já estivesse queimando!”(Lucas 12,49).




Diante do atual contexto sombrio vivido não só no Brasil, mas em toda América Latina e em outros países do mundo, a Comissão Pastoral da Terra Bahia/Sergipe, inspirada nas lutas dos povos da terra e das águas, reuniu 45 trabalhadores e trabalhadoras rurais, agentes e convidados em sua XIX Assembleia Regional, entre os dias 23 a 25 de abril de 2019, na Casa de Retiro Sagrada Família  em Salvador – Bahia. Na oportunidade, avaliou o último triênio, refletiu sobre a conjuntura política, econômica, social e eclesial, definiu prioridades e estratégias de ação para o próximo biênio (2019 – 2021), além de eleger a nova Coordenação Regional.
Na análise da conjuntura, a Assembleia destacou o aprofundamento do Golpe político-civil-midiático gestado a partir da eleição presidencial de 2014, onde a direita, insatisfeita com o resultado eleitoral que reconduziu Dilma Rousseff ao cargo de Presidenta da República, culminou com seu impedimento em 2016. Além disso, aliada ao Judiciário, levou à prisão o ex-presidente Lula, impedindo-o de concorrer à presidência em 2018. Desta forma, garantiu, com a força  do conservadorismo e fundamentalismo religioso, a chegada de um governo de extrema direita ao poder político central do país, que, apesar de estar no início, confirma seus ideais expressos abertamente durante a campanha eleitoral, com sucessivos ataques e retiradas de direitos sociais, culturais, políticos, ambientais e territoriais dos povos e comunidades tradicionais e trabalhadores/as em geral,  aprofundando o neoliberalismo.
Este processo em curso, evidencia as contradições do modelo de desenvolvimento, imposto sobre os territórios e populações acima citadas, na materialização de grandes empreendimentos que são financiados pelo Estado, a exemplo de parques eólicos, solares, agrohidronegócio, mineração e outros, cujas consequências nefastas de proporções globais, levam ao esgotamento dos bens naturais, tratados como mercadorias para atender a interesses privados de uma pequena elite nacional e internacional. Dentre os males, destacamos recorrentes crimes ambientais, como os ocorridos em Mariana e Brumadinho – no estado de Minas Gerais, este último afetando diretamente o rio São Francisco. Tais crimes ceifaram inúmeras vidas nas suas diversas formas, com danos socioambientais imensuráveis.
Os testemunhos de trabalhadores/as e agentes retratam o agravamento dos conflitos no campo, o que confirma os dados do Caderno de Conflito publicado anualmente pela CPT em nível de Brasil.  Na Bahia nos últimos três anos, foi registrado um aumento significativo nos conflitos por água, enquanto os conflitos por terra diminuíram, mas com um avanço da violência sobre as comunidades com assassinatos, ameaças de morte, prisões, além da criminalização de lideranças e movimentos sociais.
A avaliação da Assembleia revelou que, em meio a este contexto de escuridão, o sentimento é de esperança, com uma atitude de luta permanente para a defesa dos territórios, bem essencial a produção e reprodução da vida. Foi reafirmado o papel fundamental das mulheres, em ascensão como protagonistas dos processos de resistência cotidiana e presença nas organizações, resta, porém, o desafio de romper com as “prisões” do patriarcado que sufocam suas vozes.
Neste horizonte, reafirmamos nosso compromisso com as lutas pela conquista e defesa da terra, dos territórios, da água e demais bens naturais, imprescindíveis aos modos de vida das comunidades, baseados nos princípios da agroecologia, autonomia e autogestão, num processo de superação do atual modelo de Estado rumo ao bem viver.
Salvador – Bahia, 25 de abril de 2019.

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