Venda de terras tradicionais em larga escala agrava a insegurança alimentar
Em Casa Nova BA, comunidades se organizam para defender território |
O relatório Situação da Terra,
divulgado nesta terça-feira (13), pela ONG ActionAid, afirma que a venda de
terras de comunidades tradicionais em larga escala pode agravar a insegurança
alimentar, principalmente com a concentração de posse por grupos estrangeiros.
O caso é semelhante ao registrado nas terras quilombolas capixabas, onde a
insegurança alimentar foi relacionada com a ocupação das terras tradicionais
das comunidades do Sapê do Norte, nos municípios de Conceição da Barra e São
Mateus, norte do Estado. Na região, grande parte das terras é ocupada pela
Aracruz Celulose (Fibria).
Segundo o relatório, a
concentração da terra por grandes empresas estrangeiras é focada na exportação,
deixando a produção local marginalizada, comprometendo assim a sobrevivência
das comunidades. O estudo aponta o problema f em 24 países da América Latina,
África e Ásia.
No caso das comunidades
tradicionais que vivem no norte do Espírito Santo, as grandes aquisições
envolveram não apenas o uso indevido de suas terras, mas também a exploração
dos recursos hídricos, colocando em risco o abastecimento e o cultivo de alimentos
por essas famílias.
O documento da ActionAid cita
ainda uma comunidade no Quênia em que uma multinacional comprou uma área de 2,3
mil hectares para a produção de arroz, deixando sem terra e com menos acesso à
água os pequenos agricultores que viviam na área.
No Espírito Santo, só a
monocultura de eucalipto mantida pela Aracruz Celulose ocupa 174 mil hectares
de terras, sendo parte delas consideradas área de comunidades tradicionais.
De acordo com os dados da
ActionAid, 56% da terra agricultável do país estão nas mãos de 3,5% dos
proprietários rurais. Os 40% mais pobres têm apenas 1% dessas terras.
Para o Movimento dos Pequenos
Agricultores (MPA), entre as causas da insegurança alimentar estão também:
padrão alimentício em função do lucro; desigualdade econômica e social; modelo
agrícola hegemônico; produção de agrocombustíveis; agrotóxicos, e o sistema
intensivo de produção animal (alto consumo de grãos).
No relatório foram reconhecidos
os esforços do governo brasileiro para fortalecer a agricultura familiar e os
povos do campo, porém, foi cobrado com urgência a implementação de políticas
que protejam comunidades vulneráveis à exploração fundiária.
A implementação da Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, regulamentada em agosto, e a
redução drástica no uso de agrotóxicos na agricultura nacional também estão
entre as sugestões do documento para o caso brasileiro.
Fonte: Século Diário
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