Pescadores
apresentam reivindicações para representantes do governo
No dia 27 de setembro, nono dia dos protestos dos pescadores
do Xingu, que se mantém acampados em ilha próxima às obras da barragem de Belo
Monte, representantes do Ministério da Pesca e da Casa de Governo se reuniram
com representantes da Colônia de Pescadores Z-57 em Altamira, no Pará. Também
participaram da reunião a Associação dos Criadores e Pescadores de Peixes
Ornamentais (ACEPOAT) e a Cooperativa dos Pescadores e Beneficiadores de
Pescado de Altamira (COOPEBAX).
As associações de pescadores entregaram aos representantes
do Governo Federal uma lista de reivindicações denominada: “Reivindicações
Básicas mínimas para o inicio das tratativas dos movimentos sociais que
utilizam o Rio Xingú como atividade de subsistência – Ribeirinhos e Pescadores
de Altamira e Região”, tratando dos impactos da obra de Belo Monte, incluindo a
continuidade do desenvolvimento das atividades de pesca e aquicultura no Rio
Xingu. No relatório do que o governo chamou de “audiência com os
pescadores de Altamira”, as reivindicações foram encaminhadas para discussões
futuras, em mesas de discussão entre “governo x Norte Energia”, e para
“encaminhamentos a quem de direito”.
“Todas essas questões envolvendo os impactos de Belo Monte
sobre os pescadores e suas famílias deveriam ter sido discutidas antes do
início da construção. Agora o governo e a Norte Energia estão tentando fazer
com os pescadores a mesma coisa que fizeram com os índios, enganando eles
enquanto avançam com as obras”, diz Antonia Melo, coordenadora do Movimento
Xingu Vivo.
DRAMA DOS PESCADORES
Os pescadores denunciam o drama que estão vivendo com a
diminuição dos peixes após o início da construção do barramento do rio e estão
preocupados com o avanço acelerado das obras na ensecadeira do pimental, onde
está sendo construído barramento para desviar o curso do rio.
“Agora você vem para o rio e aquela produção que você fazia
em 3 dias, não consegue fazer nem em 8 dias. O peixe está diminuindo aqui. E
pra cima do Xingu, não tem como a gente ir, porque o que não é área indígena já
está cheia de pescadores. E aqui o peixe está sumindo. E os peixes que morrem
eles recolhem e dão sumiço”, denuncia o pescador indígena Cecílio Caiapó, “A
gente fica uma semana no rio e volta com uma mixaria de peixes pra casa. O que
a gente vai mostrar pra nossa família? Quer dizer que as obras não podem parar
mas a gente pode morrer de fome?”, questiona. Cecílio afirma que os pescadores
só queriam poder continuar pescando, como sempre fizeram.
O pescador Lindolfo explica que desde o início do verão (em
Maio deste ano), ele está sendo obrigado a gastar o dobro de combustível e
tempo, para conseguir encontrar uma quantidade de peixes menor do que sempre
conseguiu pescar no Xingu. “E aí, como é que eu fico? porque eles estão quase
fechando o rio na ensecadeira”, diz Lindolfo.
Entre as demandas discutidas na reunião desta
quarta, os pescadores exigiram uma nova avaliação de impactos sobre
os estoques de peixe através do levantamento dos estudos feitos pela UFPA e
outros sobre monitoramento da pesca e biomas, como subsidio de avaliação do
grau de impactos na produção e ambiente natural do pescado atualmente.
INTIMIDAÇÃO
Ao longo dos últimos dois dias, funcionários uniformizados
do Consórcio Construtor de Belo Monte, têm desembarcado na ilha onde os
pescadores estão acampados para filmá-los em atitude de intimidação. A ilha da
resistência, como está sendo chamada pelos pescadores, não pertence ao CCBM.
“Nós estamos muito revoltados, porque podia ter vindo um
representante da Norte Energia aqui fazer uma proposta justa pra gente e ao
invés disso mandaram a polícia na semana passada e agora os guaxebas para
ficarem filmando a gente sem autorização”, diz o pescador Cecílio, que acusa os
funcionários da empresa responsável pela construção de Belo Monte de agirem com
intuito de intimidá-los e de não respeitarem o direito dos pescadores à imagem.
“Essa é uma forma criminosa de intimidar os pescadores”, diz
Antônia Mello, do Xingu Vivo.Segundo funcionários da empresa relataram à alguns
pescadores, a proximidade do grupo às obras forçou o cancelamento de explosões
que ocorreriam no final da tarde de ontem.
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