Butão quer eliminar uso de agrotóxicos até 2030
O pequeno reino
himalaio do Butão, conhecido por sua busca da "felicidade nacional
bruta", deseja se tornar o primeiro país do mundo a viver de uma
agricultura "100% biológica", ao se propor a eliminar gradualmente os
produtos químicos agrícolas dentro de dez anos.
Localizado entre China
e Índia, este país de maioria budista permaneceu durante muito tempo isolado do
mundo exterior e protagonizou uma abordagem original para o desenvolvimento
econômico, focando-se na proteção do meio ambiente e do bem-estar.
Seu modelo de
desenvolvimento que mede a felicidade como Produto Interno Bruto (PIB) foi
elogiado pelas Nações Unidas e recebeu o apoio público de líderes europeus,
especialmente na França e na Grã-Bretanha.
Sua determinação de
seguir um caminho diferente se reflete no objetivo de suprimir progressivamente
os produtos químicos agrícolas em 10 anos, para que seus alimentos básicos
(batatas, trigo, frutas) sejam "100% bio".
"O Butão decidiu
se comprometer com uma economia verde diante da extraordinária pressão que
exercemos no planeta", explicou o ministro de Agricultura, Pema Gyamtsho,
durante uma entrevista por telefone à AFP concedida a partir de Timfu, a
capital.
O Butão conta com uma
população de 700 mil habitantes, da qual dois terços dependem da agricultura
nos povoados espalhados pelas planícies férteis do sul, pelas remotas montanhas
ou pelos vales do norte do país.
"Se praticarmos a
agricultura intensiva, isto envolve a utilização de muitas substâncias
químicas, o que não corresponde à nossa crença budista, que nos pede para
vivermos em harmonia com a natureza", disse.
Com muitas árvores, o
país possui apenas 3% em terras cultivadas.
A maioria dos
camponeses já utiliza folhas podres ou adubo composto como fertilizante
natural.
"Só os
agricultores que vivem em locais acessíveis por estrada têm a possibilidade de
recorrer a produtos químicos", detalhou o ministro, que informou que sua
utilização permanece em "níveis muito baixos" em relação aos
critérios internacionais.
Concorrência de Niue
"Desenvolvemos uma
estratégia progressiva. Não podemos nos tornar bio da noite para o dia",
reconheceu Gyamtsho, que esclareceu que esta política foi adotada pelo governo
no ano passado.
O único concorrente do
Butão para se converter no primeiro país "100% bio" é a pequena ilha
autogerida de Niue, situada no Pacífico Sul e com 1.300 habitantes, que queria
alcançar seu objetivo em 2015-2020.
O mercado da
alimentação bio e seus preços mais elevados atraem os pequenos países, segundo
Nadia Scialabba, especialista em agricultura biológica para a FAO, a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Este mercado é possível
"para países muito pequenos que não são competitivos em quantidade, mas
que queriam sê-lo em qualidade", resumiu à AFP.
O mercado mundial de
bio foi estimado em 44,5 bilhões de euros em 2010, segundo números do Instituto
de Pesquisa sobre Agricultura Biológica e da Federação Internacional de Movimentos
de Agricultura Biológica (IFOAM).
Esta política do
"tudo bio" deixará "o país com a reputação de uma alimentação de
grande qualidade biológica, o que, no longo prazo, lhe dará vantagem no mercado
e a possibilidade de cobrar preços altos", antecipou Peter Melchett, da
Soil Association, um organismo britânico que aposta na cultura biológica.
Fonte IG
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