Decepção com a política agrária
Completados dez anos da presença do Partido
dos Trabalhadores (PT) no comando do governo federal ainda existem cerca de 150
mil famílias de trabalhadores rurais sem-terra acampadas em dezenas de
acampamentos Brasil afora, lutando por seu pedaço de terra. Surpreendentemente,
nos oito anos do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso foram criados
4.410 assentamentos. Na década de Lula/Dilma o número foi de 3.711. Os dados
são do Dataluta/Unesp – Banco de dados da Luta pela Terra.
Segundo o doutor em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e docente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), César Sanson, o balanço que se faz da administração petista em relação à reforma agrária é ruim. “O PT no poder não teve a coragem suficiente para interferir e alterar a estrutura agrária brasileira. Mesmo tendo em mãos instrumentos que lhe permitiriam radicalizar a distribuição de terras, tratou o tema de forma conservadora e burocrática. O retrocesso foi exatamente esse, a falta de ousadia em fazer uma grande, profunda e corajosa reforma agrária no país”, critica o sociólogo.
Ao menos, o executivo tentou conduzir a sociedade rumo à descriminalização dos movimentos sociais camponeses. Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, com a chegada do PT ao governo, foi inaugurada uma nova postura do executivo frente às lutas sociais, distinta de Collor e FHC, que buscaram destruir o movimento. “Com o PT no poder, a tarefa [de perseguir e criminalizar os movimentos sociais do campo] coube a outros poderes que compunham o Estado brasileiro. Neste caso, tivemos uma brutal criminalização por parte do poder judiciário e do parlamento, inclusive criando duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) contra o MST e uma terceira contra todas as ONGs e movimentos sociais”, reforça Alexandre. O militante sem-terra pondera, contudo, que o PT pouco fez para impedir o processo de criminalização dos movimentos sociais do campo. Segundo ele, poucos deputados e senadores do partido têm defendido as organizações sociais, e quando o fazem, trata-se de uma iniciativa de seus mandatos, não uma definição partidária.
Pinga-gotas
Segundo o doutor em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e docente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), César Sanson, o balanço que se faz da administração petista em relação à reforma agrária é ruim. “O PT no poder não teve a coragem suficiente para interferir e alterar a estrutura agrária brasileira. Mesmo tendo em mãos instrumentos que lhe permitiriam radicalizar a distribuição de terras, tratou o tema de forma conservadora e burocrática. O retrocesso foi exatamente esse, a falta de ousadia em fazer uma grande, profunda e corajosa reforma agrária no país”, critica o sociólogo.
Ao menos, o executivo tentou conduzir a sociedade rumo à descriminalização dos movimentos sociais camponeses. Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, com a chegada do PT ao governo, foi inaugurada uma nova postura do executivo frente às lutas sociais, distinta de Collor e FHC, que buscaram destruir o movimento. “Com o PT no poder, a tarefa [de perseguir e criminalizar os movimentos sociais do campo] coube a outros poderes que compunham o Estado brasileiro. Neste caso, tivemos uma brutal criminalização por parte do poder judiciário e do parlamento, inclusive criando duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) contra o MST e uma terceira contra todas as ONGs e movimentos sociais”, reforça Alexandre. O militante sem-terra pondera, contudo, que o PT pouco fez para impedir o processo de criminalização dos movimentos sociais do campo. Segundo ele, poucos deputados e senadores do partido têm defendido as organizações sociais, e quando o fazem, trata-se de uma iniciativa de seus mandatos, não uma definição partidária.
Pinga-gotas
Alexandre Conceição
acredita que no início da primeira gestão de Lula houve avanços em relação à
desapropriação de terras e, consequentemente, a criação de assentamentos. Em
seu primeiro ano, 2003, foram criados 333 assentamentos (29.723 famílias
beneficiadas). Dois anos depois, o Brasil testemunhou o ápice da criação dos
assentamentos na Era PT, com a criação de 885 assentamentos, com 106.319
famílias adquirindo suas terras (veja
no gráfico).
A partir de 2007, contudo, “puxaram o freio de mão” nas desapropriações, como
afirma Conceição. Foram criados apenas 391 assentamentos no ano.
Quatro anos depois, com a desapropriação de terras num processo de declínio,
o primeiro ano do governo Dilma, em 2011, contabilizou míseros 109
assentamentos (9.079 famílias beneficiadas).
“O que se assistiu [nos últimos dez anos] foram
desapropriações a ‘pinga-gotas’ e assim mesmo por pressão do MST. O avanço se
resumiu a não criminalização dos movimentos sociais e à ampliação de
convênios, muito pouco para um governo de esquerda”, avalia César
Sanson.
Uma das conclusões de analistas e movimentos é a de que o Estado brasileiro
tem preferido fazer a regularização fundiária em terras públicas a
desapropriar latifúndios no campo brasileiro para fins de reforma agrária, o
que, de fato, ocorreu predominantemente na Amazônia, em terras ocupadas por
posseiros.
A regularização de terras públicas ocupadas tem sido o modo mais viável para o
Executivo agir, tendo em conta que o PMDB – um dos representantes dos
interesses ruralistas no Congresso Nacional – é um forte aliado para a governabilidade,
como o Brasil de Fato constantemente
tem reforçado.
Fonte: Brasil de Fato
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