COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MINAS, BAHIA E PERNAMBUCO TROCAM EXPERIÊNCIAS EM SEMINÁRIO PROMOVIDO PELA CPT

                         

O “Seminário Troca de Experiências : Construindo a História, Partilhando Nossa Resistência” reúne, até quarta-feira 13,  relatos  de resistência  de comunidades tradicionais da  Bahia, Pernambuco e Minas Gerais. Realizado em Salvador,  e organizado pela Comissão Pastoral da Terra  dos três estados, o evento que começou ontem   tem como objetivo  socializar as experiências de duas comunidades  quilombolas, uma  vazanteira,  uma de fundo de pasto e um grupo de assentados  acompanhados pela pastoral.

Remanescentes  do famoso quilombo Zumbi dos Palmares,  representantes da comunidade de Castainho, de Garanhus (PE),  contaram como enfrentam as investidas de imobiliárias, ávidas pela boa qualidade da terra repleta de belezas naturais. Depois das invasões de fazendeiros ao longo dos anos, hoje os quilombolas estão em 180 hectares, após o reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares em 2000.

Sobre o processo de sistematização das lutas dos herdeiros de Zumbi, seu Antônio Ferreira considera que  “a comunidade é mais forte quando conhece a história de seus antepassados, e seus direitos”.  

Da Zona da Mata pernambucana, trabalhadores e trabalhadoras sem terra trouxeram a história de como 300 famílias ocuparam o Engenho Prado, localizado em Tracunháem.  Pertencente a um dos maiores empresários do ramo açucareiro do Nordeste,   a fazenda foi tomada por famílias da região, grande parte empregada de usinas. “A gente voltou para os Prados em 9 de fevereiro de 1997. Começamos a plantar na mesma semana e com três meses a gente tinha comida para comer e para vender. A gente tinha muita fé. Nosso sonho era deixar de trabalhar para o usineiro (João Santos) e viver do nosso suor, tirar a nossa alimentação de uma terra”, conta Maria do Carmo, do assentamento Nova Canaã.

Para tentar intimidar as famílias, o grupo Santos juntamente com a polícia tentou expulsar as famílias da área. Destruíram casas, lavouras. Mas já era tarde. As famílias não arredaram o  pé do local. Como fruto da resistência, em 2005, saiu de maneira definitiva a emissão de posse que garantiu a terra às famílias. Hoje, mais de 170 famílias vivem nos dois mil hectares dos assentamentos dos Prados. 

Já a luta em defesa por territórios tradicionais do norte da Bahia está representada no seminário por camponeses e camponesas de Areia Grande, área de fundo de pasto de Casa Nova. Iniciada no século dezenove, a história das famílias que ali moram é marcada pela luta contra grileiros, que envolveu até o Escândalo da Mandioca no final da década de 1970. Em 2009, o agricultor José Campos Braga foi assassinado meses depois de enfrentar com seus companheiros e companheiras uma milícia contratada por empresários da região para retirar as famílias posseiras. Para resumir as lutas  e vontades que a comunidade nutre hoje,   a frase “resistir para existir", do camponês Zacarias Rocha,  se tornou um lema em Areia Grande.

Do oeste baiano, vieram os quilombolas de Barra do Parateca, localizado no município de Cariranha. Reunidos na Associação Agropastoril Quilombola  de Barra do Parateca, 245 famílias também enfrentam  a ganância de fazendeiros. Cansadas das investidas dos latifundiários, em 2008 elas decidiram barrar o avanço das fazendas sobre o território tradicional,  com o plantio em mutirão sobre terras de lameiro. Depois da ocupação conjunta das famílias quilombolas, em duas semanas, os fazendeiros entram com 11 ações na justiça contra a associação. Mas a comunidade não desistiu,  ficou na área e em 2012 colheu os primeiros fruto da união, com  as colheitas da roças individuais e coletivas.

Para a líder quilombola de Barra do Parateca, Durcelene Borges, o desejo de conquista de direitos é fundamental para a comunidade.  “A luta pelo território quilombola é clamor por justiça , e apesar das dificuldades, temos esperança que dias melhores virão” .

Do norte de Minas Gerais, as vazenteiras e vazanteiros de Pau Petro, que fica em Matias Cardoso, apresentaram as experiências da luta em defesa das  terras do antigo Arraiá do Meio, grilada por um oficial de cartório da cidade vizinha de Manga, e vendida a um português. Ao cercar as terras até então  coletivas, o estrangeiro expulsou as famílias da área.  Em 1979,   Raí Tam  adquiriu o  que veio  a se chamar de Fazenda Catelda. Depois de investir numa plantação de cana-de-açúcar no espaço, em 1992 uma cheia  dos rios Verde e São Francisco destruiu a plantação em 24 horas. Totalmente abandonada, a área  foi reocupada por 105 famílias em 2011. Mesmo com um fazendeiro da vizinhança tentando tomar as terras, seu Luis Borges, que mora no território há 52 anos, disse que a situação “está melhor, estamos tranquilos” .

As sistematizações das experiências  de Castainho, Prado, Areia Grande, Barra do Parateca e Pau Preto contaram com apoio da Horizont 3000, Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento, Welthaus Diözese Graz-Seckau e a Dka Austria. De acordo com  Elisabeth Moder, da Horizont, a ideia agora é divulgar  as histórias dessas comunidades. “Com esse trabalho queremos ver o que podemos levar para outros projetos, outros países. Queremos também incluir as cartilhas das comunidades, o vídeo sobre Areia Grande, e  os relatórios das sistematizações em numa plataforma de internet para intercambiar experiências entre parceiros”.
CPT Juazeiro

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