Articulação que luta pela revitalização popular do rio São Francisco discute prioridades para 2013
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Rio São Francisco perdeu 35% da vazão em 50 anos |
Antes de iniciar o planejamento da Articulação Popular São Francisco
Vivo na regional do Submédio, organizações populares e comunidades tradicionais
representadas homenagearam o fotógrafo João Zinclar, ao comentarem fotos suas
espalhadas pela sala de reunião do Centro de Terapias Naturais Giaani Bandi, em
Juazeiro (BA), na manhã dessa segunda-feira 25. Saudosos, os participantes
lembraram o homem e o militante que faleceu em acidente
automobilístico, no início do ano, mas cujo exemplo de luta ficará para sempre nos
retratos que fez das águas e dos povos do castigado Velho Chico. Seu livro de
fotos “O Rio São Francisco e as Águas do Sertão” é considerado um monumento em
defesa do rio e de seu povo.
Atuando em toda a Bacia Hidrográfica do rio, a São Francisco Vivo articula os
enfrentamentos populares aos grandes projetos de degradação do rio, a partir
das comunidades atingidas, com apoio de entidades mediadoras. As organizações e
comunidades envolvidas lutam para manter vivo o extenso curso d´água que, com
seus afluentes, beneficia 16 milhões de pessoas, ao longo de 640 mil km2. Muito
ameaçado, porém, o Velho Chico pode se tornar intermitente. Nos últimos 50
anos, estudos apontam uma perda de 35% de sua vazão. Nesse período, barragens
para geração de energia e grandes projetos agropecuários e de irrigação se
alastram por sua bacia, devastando suas matas e comprometendo suas águas.
Para defender o rio e seu entorno dos projetos degradantes que cobiçam o
território sanfranciscano, organizações e comunidades ribeirinhas defendem uma
revitalização plena e verdadeira. "Nós entendemos que qualquer
revitalização do São Francisco deve levar em conta terra, água, rio e povo. Acontece
que o governo tem uma visão do que é revitalizar que está distante do que as
comunidades e toda a bacia de fato necessitam para ter real sustentabilidade.
Revitalizar para o governo se limita a limpar alguma sujeira das águas que a
expansão de projetos empresariais continua produzindo", explica Ruben Siqueira,
articulador geral da São Francisco Vivo.
A revitalização propagada pelo governo federal vacila, estima mais
recursos do que estão sendo efetivamente usados, e mal aplicados. Obras
importantes como a do saneamento estão quase todas incompletas, quando não mal
feitas. Na outra ponta do grande projeto governamental, as obras da
transposição estão abandonadas, apesar dos custos ultrapassarem 8 bilhões de
reais, quase o dobro do valor inicial. Assim, confirmam-se as denúncias da Articulação
São Francisco Vivo, do bispo D. Luiz Cappio e outros, de que a obra é eleitoreira e um ralo de dinheiro público.
Iniciada
em 2005, com apoio da agência de cooperação alemã Misereor, e agregando cerca de 350 entidades parceiras ao longo do
Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco, para os próximos três anos a São
Francisco Vivo prevê uma atuação mais “ousada”. “Entre
as perspectivas estão o monitoramento do programa governamental e ações de
revitalização de microbacias, como entidades populares fizeram no rio dos
Cochos, em Januária, Minas Gerais. Era um rio que estava morto, e com um
conjunto de medidas simples e eficazes, voltou a correr água... Replicar a
experiência visa mostrar a capacidade do povo organizado e obrigar o governo a
fazer isso de forma mais ampla e estrutural”, prevê Ruben Siqueira.
Saneamento
Para enfrentar os problemas relacionados aos esgotos despejados no rio
sem o devido tratamento, situação comum em grande parte dos municípios
ribeirinhos, a São Francisco Vivo pretende articular 40 grupos de monitoramento
e fiscalização de saneamento básico ao longo do rio, como os que já existem em quatro
bairros de Juazeiro, na Bahia, entre eles o mais populoso, o João Paulo II, onde
comunitários se organizam para acompanhar e fiscalizar o trabalho das empresas
responsáveis, pressionando pela transparência e bom andamento das obras.
“Estamos cobrando mais pressa. Era para (a prefeitura local) entregar o
saneamento do João Paulo II no dia 03 de fevereiro. Hoje já é 25 e a obra está
parada”, reclama Elton Souza, integrante de grupo que monitora o esgotamento no
bairro.
No município, 45% dos rejeitos são despejados no rio de forma
inadequada, segundo apurou o Ministério Público da Bahia.
Paralelo aos atrasos nas obras de saneamento de cidades como Juazeiro, cresce
o risco de privatização das águas. Na calada da noite, depois de ser reeleito
no ano passado, o prefeito juazeirense Isaac Carvalho (PCdoB) enviou ao
legislativo municipal Projeto de Lei que entrega por 20 anos à iniciativa privada o controle de diversos órgãos
públicos. Entre eles, o SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Na Câmara de Vereadores, apenas um vereador
votou contra a ideia do “comunista”.
Na vizinha pernambucana Petrolina, o executivo municipal comandado por
Julio Lossio (PMBD) defende a municipalização da Companhia de Pernambucana de
Saneamento (Compesa) para depois deixá-la
por três décadas com o capital privado.
Por Juliana Magalhães e João Marques – CPT Juazeiro
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