NÚMERO DE MORTES NO CAMPO SE MANTÉM ALTO EM 2012, APONTA CPT

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Segundo balanço parcial da Comissão Pastoral da Terra, o número de assassinatos em conflitos no campo em 2012 foi de 29 pessoas em todo o Brasil. O estado com mais mortes foi o Pará com 4 óbitos, seguido por Minas Gerais, Maranhão e Amazonas com 3 cada um. Se confirmados, os números serão os mesmos do ano de 2011.

O estudo mostra que entre os atacados estão indígenas, quilombolas, assentados, pequenos agricultores, líderes de movimentos sociais, sendo que os assassinatos ocorreram não só em disputas por terra, mas também em questões ambientais e conflitos pela água.

Ameaças e Mortes

O ano passado foi marcado por diversas ameaças que muitas vezes acabaram em morte. Jagunços do agronegócio não pouparam nenhum setor, foram assentados, quilombolas e indígenas, mas notoriamente os guarani-kaiowá que ainda vivem situação de fragilidade mesmo após a terra ser demarcada.

A Comissão Pastoral da Terra do Acre já foi invadida 7 vezes, sendo 4 somente no mês de janeiro. A CPT no Estado tem denunciado a ação de madeireiros nos mananciais, e o fato de quase nada ser roubado nos arrombamentos indica possível represália. Além disso, agentes têm sido ameaçados de morte - na última ocasião os invasores picharam xingamentos contra Darlene Braga, coordenadora da regional, dizendo que ela iria morrer.

Denúncias

A CPT Nacional, o CIMI e a Comissão 8 da CNBB, já haviam denunciado esse claro sinal de coação contra o trabalho da pastoral no Estado (leia mais aqui). O fato dessas invasões à sede não possuírem impressão digital dificultando a investigação da Polícia Civil, bem como acontecer roubo, em sua maioria, de documentos, leva a crer que trata-se de crime para atrapalhar a pastoral.

Coincidentemente, os ataques foram intensificados após a CPT denunciar irregularidades em planos de manejo florestal e ação de fazendeiros e madeireiros no Acre e Sul do Amazonas, questionando o latifúndio e as novas formas de apropriação dos meios naturais coletivos para transformá-los apenas em capital para alguns.

Mesmo tendo sido feitas reiteradas denúncias ao Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF), secretarias de Direitos Humanos e Secretaria de Segurança Pública nada foi resolvido até o momento.

Uso do Estado

Os números dos conflitos no campo se tornam ainda mais preocupantes quando percebe-se que os políticos escondem-se no poder do cargo para conseguir benefícios e acuar pequenos produtores rurais.

Recentemente, em artigo para a Folha de S. Paulo, dom Tomás Balduino, bispo emérito da cidade de Goiás (GO) e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra, denunciou manobras da senadora - atualmente do PSD, mas que já transitou por DEM e PFL -, Kátia Abreu no Estado de Tocantins. A líder da bancada ruralista no Senado e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) despejou o pequeno agricultor, Juarez Vieira, em 2002, por meio de pedido de reintegração de posse, mas o caso é mais antigo.

'Utilidade Pública'

No ano de 1996, o atual governador do Tocantins pela quarta vez, Siqueira Campos, decretou de "utilidade pública" área de 105 mil hectares em Campos Lindos. Em 1999 o novo projeto do governador beneficiou alguns fazendeiros por R$ 8 o hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu (PSD-TO), então deputada federal pelo ex-PFL. Kátia foi uma das agraciadas com 1,2 mil hectares; seu irmão Luiz Alfredo Abreu abocanhou área de mesmo tamanho. Emiliano Botelho, presidente da Companhia de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares.

Do outro lado da cerca, ficaram várias famílias expulsas das terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma reforma agrária às avessas. O mais curioso é que a indenização para as famílias foi de R$ 10 mil por hectare, valor considerado baixo, já que as famílias despejadas não poderiam adquirir nova propriedade com o dinheiro. Mas se os R$ 10 mil de indenização é considerado baixo, os R$ 8 pagos pelos amigos do governador são um atentado aos cofres públicos.

A senadora respondeu o artigo de dom Tomás Balduino espantada com a falta de cristianismo do bispo ao acusar, segundo ela falsamente, a parlamentar. Em seu espaço de resposta, Kátia Abreu desmentiu algumas das acusações levantadas e justificou que comprou a terra "em moeda corrente e a preço justo, como os demais fazendeiros. Era área inóspita e desabitada; hoje, é a internacionalmente conhecida região do Mapito", o tipo e benefício conseguido apenas por pioneiros desbravadores.

No Mapa da Pobreza e Desigualdade divulgado em 2007, o município de Campos Lindos apareceu como o mais pobre do país. Segundo o IBGE, 84% da população vivia na pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência. Parece que o desenvolvimento levado à cidade favoreceu apenas Kátia Abreu e demais fazendeiros agraciados com o projeto de Siqueira Campos.

Fonte: Caros Amigos
Foto: CPT Alagoas - reprodução

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